Centro de interpretação de Mapungubwe
Um centro cultural em África
por CLÁUDIA MELO
26 Setembro 2010
Neste projecto, a ecologia é entendida como promoção e melhoria do meio ambiental e social, aspectos indissociáveis para uma economia mais consciente do valor da natureza e das pessoas.
O Centro de Interpretação de Mapungubwe, da autoria do arquitecto Peter Rich, é o grande vencedor dos Earth Awards 2010 (Prémio da Terra), na categoria Arquitectura, que visa promover e inspirar uma nova economia e novos consumidores no mundo inteiro. Aqui, ecologia é entendida como promoção e melhoria do meio ambiental e social, aspectos indissociáveis para uma economia mais consciente do valor da natureza e das pessoas.
E na atribuição do prémio, o júri realçou a riqueza e complexidade do Centro: é, simultaneamente, um exemplar de "arquitectura pobre" - edifício de muito baixo custo que recorre a tecnologias e métodos ancestrais -, com um forte impacto na economia e na comunidade local, e com um sentido estético de celebração da experiência da arquitectura enquanto objecto e relação com o lugar.
Situado na África do Sul, na confluência dos rios Limpopo e Shashe , o Centro implanta-se numa "mesa", formação geológica que resulta da alteração do curso do rio Limpopo, que inicialmente desaguava no oceano Atlântico, passando a desembocar no oceano Índico.
Este sítio, que se estende ao longo de um quilómetro, foi considerado sagrado por diversas tribos locais, albergando fauna e flora de espécies ancestrais, e que são o objecto da visita e do Centro.
A par da geometria, o sítio foi a fonte de inspiração para a edificação do Centro. "O resultado é uma composição estrutural que está autenticamente enraizada no local" e que se organiza segundo três níveis.
A primeira ordenação é geométrica, em que os edifícios do centro se implantam formando um triângulo equilátero, forma recorrente em antigas construções locais, como as pedras encontradas na colina Mapungubwe.
A partir desta primeira é criado um segundo sistema, que corresponde ao edifício propriamente dito, feito de diversos volumes de formas ondulantes, que resultam das suas coberturas em arco e abobado que ora saem abruptamente do chão, evocando o acontecimento geológico das antigas "mesas", ora organizam espaços habitáveis celebrando antigas culturas do local.
Construídos à base de alvenaria de terra e pedra, estes volumes possuem uma qualidade "intemporal" ou universal, que resulta da sua forma e material. Interiormente, criam espaços ctonianos, escuros e sombrios, que evocam as formas mais ancestrais do habitat humano - a gruta e caverna. Exteriormente, todos estes espaços encontram--se ligados através de terraços, espaços de estar que privilegiam a vista para a envolvente e o sol.
Um terceiro e último sistema é feito a partir de caminhos e percursos, ao ar livre e debaixo de árvores, delicados e sinuosos que contrastam com a força e a rudeza dos volumes construídos.
Além da ecologia e da universalidade, a consciência social também faz parte do projecto. Assim, os operários do Centro foram os desempregados locais sem formação em construção, a quem foram ensinadas as técnicas ancestrais de construção e, principalmente, um ofício.
"Por isso, o Centro não só conta uma história como também faz parte de uma história em evolução, de uma cultura que se desenvolve em simbiose com o seu legado natural", conclui o arquitecto.
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